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Campinas interdita 20 leitos da Maternidade por déficit de médicos; surto pode ter relação com morte de dois bebês

A prefeitura interditou 20 leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal do Hospital Maternidade de Campinas (SP) por falta de médicos e outros profissionais. A interdição foi publicada no Diário Oficial desta quinta-feira (23), mas já havia sido efetivada em 16 de fevereiro.

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Seis dias antes da interdição, o hospital notificou um surto de gastroenterite na mesma UTI Neonatal, e dois bebês entre os acometidos morreram – a causa dos óbitos ainda está em investigação mas, de acordo com o Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), pode ter relação com as mortes.

“A gente teve um surto de diarreia na Maternidade, com 17 bebês acometidos. São bebês que já têm alto risco, por isso precisaram de UTI neonatal e cuidados intermediários. E pode ser que esse surto de diarreia tenha ajudado a esse desfecho [mortes]. Não dá para afirmar que tenha a ver com essa situação, porque tem uma série de investigações que já foram começadas, existe um comitê municipal de óbitos fetais maternos e neonatais e isso ainda a gente não tem como afirmar. Mas eram crianças envolvidas no surto de diarreia”, explica Andrea von Zuben, diretora do Devisa.

Por conta da situação, o Devisa também proibiu novas internações no local com surto e determinou a implantação de um Plano de Contingência para o enfrentamento da doença.

Instituição filantrópica, a Maternidade é responsável por 40% dos nascimentos em Campinas e também atende a demanda regional. Ao todo, 60% dos atendimentos são feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o restante é de planos.

“A Secretaria de Saúde está transferindo para o Caism [Hospital da Mulher da Unicamp] e para o Hospital da PUC-Campinas as gestantes que estiverem com risco de parto prematuro, para que, ao nascerem, os bebês já sejam internados na UTI Neonatal desses hospitais”, informou a prefeitura.

Presidente Maternidade, Marcos Miele da Ponte afirma que a interdição dos leitos reduziu a capacidade de internação pela metade.

“Estamos agora reduzindo esses leitos porque, no fechamento – que foi antes do Carnaval – não conseguimos transferir nenhum recém-nascido pelo sistema de regulação, mas a partir do momento que iniciou as transferências, altas, e redução na internação, esse número de vagas foi aumentando, então estamos reduzindo para chegar nesse número de 20”.

Morte de bebês

Ponte afirmou que o surto da gastroenterite, que gera diarreia, durou quatro dias.

“A Maternidade sofreu, talvez pelo fato da superlotação, um surto de diarreia do dia 6 ao dia 9 desse mês. Então teve um caso de infecção generalizada, recém-nascidos foram contaminados na UCI, unidade de cuidados intermediários”.

“Os casos mais graves desceram para a UTI, no total foram 18 casos, 10 desceram para a UTI, mas hoje o surto está controlado”.

Em nota, o Departamento de Vigilância (Devisa) da Secretaria de Saúde de Campinas informou que a notificação do surto foi feita pela Maternidade em 10 de fevereiro.

“O Devisa e o Departamento de Gestão Organizacional (DGDO) adotaram outras medidas, entre elas a proibição de novas admissões na unidade com surto e implantação de um Plano de Contingência para o enfrentamento e contenção do surto”, informou a secretaria.

Falta de médicos
A Maternidade admitiu, em nota, o baixo número de profissionais médicos horizontalistas (que fazem as visitas diárias) e de profissionais fisioterapeutas. A direção afirma que o hospital enfrenta “uma crise financeira grave, o que dificulta a contratação de novos profissionais”.

Além da crise, a diretoria informou que faltam profissionais horizontalistas no mercado. “Também há a necessidade de mais quatro médicos com especialização em Neonatologia para plantões diários na escala de horizontalista”.

O hospital também argumenta que administra a maior UTI Neonatal da Região Metropolitana de Campinas (RMC), “atendendo prematuros extremos, por ser referência para gestação de alto risco”.

“A Maternidade de Campinas realiza cerca de 750 partos por mês, dos quais 60% pelo SUS – Sistema Único de Saúde. Ressaltamos ainda, que a Instituição enfrenta uma crise financeira grave, o que também dificulta a contratação de novos profissionais”, afirma a direção.
Transferência de bebês

Com a interdição de 20 leitos da UTI Neonatal, a Maternidade informou que fará a transferência dos bebês prematuros para outros hospitais na região. Até esta quinta-feira (23), 32 recém-nascidos estavam internados e a expectativa é manter somente 20.

O Hospital da Mulher da Unicamp (Caism), uma das unidades de referência regional para atendimento de gestantes e recém-nascidos, informou que se dispôs a auxiliar. No entanto, a reforma da unidade reduziu o número de leitos a 14.

Desde 17 de fevereiro, três gestantes internadas na Maternidade e com possibilidade de nascimento de crianças prematuras foram transferidas para o Caism.

“Uma delas já nasceu e está internada em nossa unidade de terapia intensiva neonatal. As outras duas gestantes estão internadas e em tratamento clínico e no momento sem indicação de interrupção prematura da gestação”, informou o Caism.


Superlotação nos outros hospitais

O impacto, no entanto, fez com que a administração do Caism procurasse postergar, na medida do possível, a internação de gestantes de ambulatório de pré-natal de alto risco. “Apesar de nossa capacidade de atendimento excedida, a partir da sexta-feira (17), houve 6 internações em nossa unidade neonatal, sendo 4 da cidade de Campinas”.

Hospital da Mulher da Unicamp deixa de receber pacientes por demanda espontânea
Na manhã desta quinta, o Caism abrigava 23 internados, nove a mais do que a capacidade de atendimento. As crianças estão alojadas em ambiente do bloco operatório do hospital, o que compromete o atendimento de outras pacientes de outros setores da unidade.

“No período do feriado recebemos ainda solicitações de receber também recém nascidos, porém não foi possível devido à superlotação de nossa unidade neonatal”.
Já no Hospital e Maternidade PUC-Campinas, outra unidade de referência a UTI Neonatal possui 16 leitos do SUS, mas está com 18 internados. Com isso, há gestantes de alto risco na enfermaria SUS e no centro obstétrico.

Mesmo com a pressão no hospital, a central de regulação de vagas está enviando pacientes de urgência e emergência. A PUC-Campinas também afirma que segue atendendo demanda espontânea (na porta).

“A situação está sendo comunicada diariamente aos órgãos públicos competentes e à Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross)”.

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