A feminilidade faz parte do meu corpo

Foto: Alaine Santana/Arquivo Pessoal

As pessoas falam muito de performance de feminilidade, mas eu penso: que performance ou falta de performance é essa que todos insistem em apontar? A minha falta de maquiagem, vestido e salto alto, dentre outros adereços e comportamentos, são os requisitos que me fazem não ter essa feminilidade?

Quem define se sou feminina ou não? Quem criou o conceito? Quem estabeleceu todas essas normas que me aprisionam em uma “caixinha”? “Caixinha” essa que determina o que sou e o que posso ou não fazer. Essa mesma “caixa” é o que determina quais áreas profissionais devo seguir (ou não seguir), como devo me comportar, como devo falar, andar, sentar e, principalmente, quem eu devo beijar, com que devo ter afeto e constituir uma família. Tentam barrar, a todo momento, que eu construa um vínculo com uma igual, com outra mulher.

Me questiono, desde sempre, que tipo de feminilidade é essa da qual estão falando, que estão impondo a partir de um olhar deturpado, machista, misógino e colonizador.

O interessante disto tudo é que hoje fala-se muito de masculinidades plurais, diversas formas de masculinidade, mas não se fala de feminilidade no plural. Não seria esse o momento para discutirmos sobre isso também? Nada de feminilidade singular, mas a feminilidade plural, abrangente e livre.

Alguns dizem que a minha “falta de feminilidade” me faz ter masculinidade. Todos insistem em atribuir ao meu corpo uma virilidade máscula, o que é irreal. Esses conceitos são arcaicos e aprisionantes. Meu corpo no mundo transpassa qualquer entendimento e merece viver fora desse presídio do imaginário social. Eu mereço ser livre exercendo a feminilidade à minha maneira, não a masculinidade, a masculinidade não me cabe, não me vejo nela, eu não sou ela.

Eu sou feminina. Sou feminina a meu modo. Não sigo essa feminilidade a qual muitos estão habituados, mas uma feminilidade não delimitada, em que posso vestir o que eu quiser, me comportar como eu quiser, falar e andar como eu quiser e, sobretudo, amar outra mulher.

Por Alaine Santana

* Alaine Santana é uma psicóloga e palestrante que busca dar visibilidade às lésbicas negras, especialmente as bofinhas e caminhoneiras – como ela mesma define. Siga a Alaine no Instagram pelo perfil @lesbicanegraecaminhao.

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