Semana do Índio sob olhar de manifesto

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No último dia 19 de Abril, foi celebrado o dia do índio. É uma data festiva criada pelo homem branco e bastante distante da triste realidade de nossos irmãos indígenas que vivem constantemente ameaçados. A data pode ser considerada como um motivo de reflexão sobre os valores culturais dos povos indígenas e a importância das lutas de preservação e respeito a seus valores étnicos e culturais. No Brasil Segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio) um milhão de índios estão espalhados pelo País, em 250 etnias, com 150 línguas diferentes que vivem em apenas 13,8% do território nacional, lutam diariamente para manter sua cultura viva, lutam pela demarcação da terras que vem sendo travada há muito tempo, inclusive com a ameaça à sua própria vida. A demarcação de suas terras indígenas é de suma importância para continuarem existindo e é benéfica para toda a sociedade tanto nacional quanto mundial. Quando uma área é demarcada, o que é um direito intrínseco dos povos indígenas, sabemos que fica garantida e assegurada a preservação ambiental e a preservação da biodiversidade. Sabe-se que 80% de toda biodiversidade é protegida em áreas indígenas, Na realidade são apenas eles os que protegem suas terras. São eles que fazem o contraste com toda a especulação e destruição ambiental gerada pelo agronegócio que cada vez mais quer ampliar suas fronteiras agrícolas e sabemos que isso causa a destruição ambiental e traz o envenenamento generalizado da população com seus agrotóxicos. Os povos originários por sua vez tem uma vivência muito íntima de respeito e proteção à terra e à mãe natureza. A terra faz parte de suas vidas e não existe vida se não houver natureza protegida. Contudo este é apenas um de seus problemas. Da mesma forma que nossa população periférica sofre, nossos índios sofrem. Sofrem pelo preconceito, sofrem pela agressividade e discriminação da sociedade branca, sofrem por não poderem mais viver sua vida amplamente como fizeram durante milhares de anos. No Brasil atual índio bom é índio morto e qualquer semelhança com a discriminação e desrespeito semelhantes às demais populações periféricas sejam minoritárias ou mão como as de negros e LGBTs, NÃO É MERA COINCIDÊNCIA. No pico do Jaraguá temos uma população indígena Guarani em situação totalmente diferenciada. Ainda no século XXI e em meio à maior cidade da América Latina existem índios. São os milenares Guarani que vivem em aldeias nas terras do pico do Jaraguá ancestral. É a terra Tekoa Itakupe. Tekoa tem o sentido de lugar de vida guarani. Sem, aldeia, sem terra não há vida. Itakupe é o pico, a costa de pedra. Ali se celebram os regramentos cosmológicos herdados pelos antigos Guarani. Ali, mesmo cercados pela árida cidade branca de São Paulo, se celebra a vida e a união com o meio ambiente e com o universo. Cada um se liga aos demais pelo laço de sangue e todos se ligam ao universo criador. Tupan os criou, os protege e chora por seus sofrimentos. Se expulsos, os Guarani vão para um limbo que não merece ser chamado de Tekoa pois ali deixam de existir as casas cerimoniais, as opy, e as atividades xamânico-religiosas conduzidas pelo karaí seu pajé (paye). É o karaí o responsável por cada opy. A realidade é dura. A cidade destruiu o meio ambiente e ali tudo que resta é a aldeia com suas matas e nascentes com seus guardiões Guarani. Os brancos querem a terra. Querem sufocar e expulsá-los dali. Aquele chão vale muito e a especulação fala mais alto. Se na Tekoa existe vida, também falta assistência médica, assistência social. Regras são impostas pelo homem branco e estas regras castram os índios. Não podem caçar, não podem usar árvores como fizeram durante milhares de anos. Viviam em harmonia com os animais e com as matas. Agora como são poucos animais e árvores que existem sua liberdade é tolhida. Aos pés da aldeia existe uma megalópolis e eles são os únicos punidos. Com isso seus fogos ancestrais, sua comida e suas vestimentas têm que ser substituídas pelos produtos industrializados e isso custa dinheiro. O que a terra rende é pouco e é apenas para consumo, quase nunca tem excedente para vender. Seu artesanato é taxado duramente pela economia branca e literalmente são tolhidos ou impedidos de vendê-lo. Os Guarani foram donos de muitas terras e agora as poucas que existem os brancos querem ocupar. Sem terra não há vida. Demarcação já! Madalena Santos: Biomédica, técnica em radioadiagnóstico ativista do movimento negro, militante feminista, apresentadora na TV Hortolândia.

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